Ansiosa para a ceia
O que mudou
Novidades
Parece que quando ganhamos mais idade, diminuem as novidades.
Não há mais o que escrever: nessa era digital, você expõe na internet aquelas suas ideias mirabolantes e textos que revelam o que há de mais íntimo no seu pensamento. Não é preciso ser Carlos Drummond de Andrade para fazer poesia, e não precisa ser sensacional para ter mais de 1000 visitas em seu blog. Qualquer assunto, dos mais variados temas; verás que os resultados não caberão em uma página virtual.
Por isso, escrevo nada de novo, afinal até andar contra a maré ficou ultrapassado.
A modernidade já é velha, o Big Brother então...
O novo milênio chegou faz tempo, já anda com as próprias pernas e sabe ler e escrever, ou não.
Até eu sou do milênio passado. Se não me bastasse ser do século.
Quanta mesmice. As novelas da Globo em Copacabana, com a protagonista Helena, algum coitado alcoólatra, um romance sem fronteiras e alguma traição.
A moda dos anos 50, 60, 70, volta. E tudo caminha em um ciclo tão vicioso que receio andar pra frente para voltar para trás.
Até a Xuxa, que pensei não envelhecer nunca, já passou dos quarenta, e em pelo menos um quarto desses anos, todo ano, a marca de cosméticos Monange a convoca para uma filmagem interessantíssima e inovadora: a mesma propaganda! Xuxa com roupão, local todo branco e uma quantidade assustadora de creme em seu corpo.
Mas eu também tenho culpa na escolha da profissão. Não sou cientista para descobrir algo novo, nem arqueólogo pra contar o que passou, quem viveu, o que restou.
Também não sou vidente pra falar do futuro. Não sou e nem fui algum filósofo para compreender a sociedade, e mesmo esses novos pensadores não dizem nada de novo: pegam tudo o que já foi dito e dizem sobre o que disseram.
Não sou historiador pra fazer história e meu sobrenome não soa como nome de alguma coisa que eu vou descobrir ou inventar, Gilete, Alzhaimer, Pitágoras. Não sou professor para ver cara de criança fascinada com a precisão da matemática, e tampouco posso ensinar-lhes que existem sim protozoários.
Os assaltantes tentaram inovar esse ano com o cafona-falso-sequestro pelo telefone. E provaram que o seu filho, cursando direito na São Francisco, com oito prêmios de concordância e coesão verbal nos tempos de escola, pode sim ser aquele que grita do outro lado da linha: “Mãe, elis me pegaro. Salva eu!”
É aterrorizante saber que se sair no jornal uma notícia de jovem que planeja a morte dos próprios pais com o namorado e realiza o planejado, não será novidade.
Se você ouvir que assaltantes roubaram o carro de uma mulher que teve o filho de seis anos arrastado pelo asfalto metros e mais metros preso ao cinto; não será a primeira vez.
Assusta-me um pouco essa falta de novidade; políticos corruptos, padres pedófilos, desigualdade brutal, roubos de dinheiro público na saúde, educação. Que alguém me surpreenda, por favor!
Quero ouvir que a Amazônia está completamente preservada, só de sacanagem!
Que o Bin Laden é presidente.
E que o Lula usa truques de mágica ilusionista para fazer sumir seu dedinho.
Quero que haja provas de que o Acre existe; quero ver alguma japonesa com bumbum na rua.
Mas as coisas são do jeito que são por que alguém pensou em tudo. Dividiu o ano em pedaços para um dia acabar e chamou de ano novo a única novidade existente: os dias que estão por vir. Eu nunca vivi em 2008, graças a Deus!
Querido Papai Noel,
Verdades e mentiras sobre ditados populares
Dá dinheiro, mas não dá intimidade. Indiscutivelmente verdade e o mais usado aqui em casa.