Minha estranha relação
Arquivo Confidencial
Meus queridos, #2
Tudo mundo conhece
Do outro lado do espelho
Sempre dizem que o importante é o que você faz
daquilo que fizeram de você
Mas tem vezes que não se sabe ao certo
de qual imagem você está mais perto
Tem vezes que a mala arrumada não vai embora
tem vezes que a viagem marcada não tem hora
Querem desvirtuar aquilo que você vê
Te confundem até você enlouquecer
Dizem que felicidade é boa saúde
E memória fraca
Mas tem vezes que boa saúde não é suficiente
E memória fraca ninguém tem de gente
Tem vezes que a orquestra segue as notas
Tem vezes que nem gritando a pessoa nota
Querem que você seja o culpado
E que se culpe por estar preocupado
Dizem tantas teorias afundadas
Como se tudo fosse o avesso da prática
Mas tem vezes que o outro lado do espelho faz mais sentido
Porque ao se olhar de frente não é você refletido
*abaixo às teorias da conspiração
Poeta Popular Desconhecido
Meditação sobre um cavalinho de pau
Acerca daquilo
Você que é mal passada e que não vê
Eu, pra mim, sou problema seu
Então se jogue como se não houvesse amanhã e veja ela dar um salto ornamental para sua cabeça não bater no chão.
Tente em casa.
Entre fotografias e marisco
E nessas de se perder tão encontrada depois do oceano, deixou-se levar pela engrenagem evidente falha mas contínua, onde quando poeira desacelera, uma boa noite de sono trata de repor e de encontrar energias e de tirar a ferrugem e de esconder o tétano.
É porque tratou de ver aquele filme cena por cena para ter certeza que no geral, os detalhes não deixavam-lhe mentir – era mesmo especial. Esqueceu-se de tanta coisa, que não foi capaz de lembrar que aquilo poderia não dar certo – brincava com metades, como sim e não. Mas sequer imaginava.
Quando lhe ocorria, procurava alguma rápida distração de ater-se, disfarçando, ainda que de si mesma, em um gostoso embalo que lhe trazia criatividade e lhe garantia boas noites dançantes – a dormir com os pés doendo em uma liberdade de escolha interessante: pela primeira vez na vida, tudo que fazia atingia, acredite, apenas a si mesma.
E foi também por essa razão que lutou tão fielmente ao seu objetivo; cruzou o mapa mundi com um x vermelho, porque a volta, sabia de cor.
Assim pensava, assim mentia. Trouxe na mala histórias, fotografias e mariscos. Todos mortos, vistos por quem não se preocupa em saber onde ele começa, onde ele termina, onde, naquele negócio estranho, bate um coração.
Engolem-nos de uma vez só. Às vezes dois, três. E ela fazia isso com as histórias que lhe incomodavam – as engolia de uma vez só. Sem se preocupar em saber onde começam, onde terminam. Já não se importava mais.
1. Eu quero uma vida de cinema
Que fique bem claro que não refere-se a comédias românticas previsíveis mamão com açúcar agrada a todos. Pronto. Derrubado o senso comum, podemos começar.
Sabe o ângulo perfeito dos rostos, o enquadramento da cena sem esquecer dos detalhes? Sabe o zoom na expressão, na conversa. A luz, o ambiente, o jardim, o momento, o passeio. Sabe?
Aquele minuto que muda o rumo, aquele rumo que nunca foi perseguido, por vezes ignorado.
Sabe aquele suspiro de uma discussão, duas horas que podem valer por anos, emoções a flor da pele e a espera ansiosa pela resposta. Sabe?
Eu queria viver só de exceções. Sem me esquivar de momentos ruins. Queria que minha vida fosse gostosa de ser assistida sem nunca ser vista por ninguém. Que fosse, tantas vezes, emocionante.
O mais ou menos me mata. O previsível também. Porque é assim para mim não existe.
A minha briga diária não é pelo descanso em paz, não é pelos lugares que eu quero conhecer, não é para, por fim, ser reconhecida. A minha briga diária é para viver as sensações mais simples com uma grandeza incalculável.
Eu estudo por conversas mais profundas, para poder levar o pensamento aonde ele nunca foi. Para ter meus gostos e aproveitar da forma mais única todos eles.
Quero dividir, quero somar, achar graça naquilo que tenta um salto e cai desajeitado no chão. Não apenas sucessos, vitórias e tudo aquilo que admiração está intrinsecamente ligado.
Eu quero dar tchau para tudo que eu não acho certo. Brigar pela pureza de um coração batendo mais depressa.
O que eu quero é muito simples. E é exatamente por isso que é tão complicado.
Capítulo 17,5
Gostamos de coisas pares para tudo que é doce. Dividimos história em começo, meio e fim. O um, sozinho, assusta. Peso sempre é de mais, na sacola, na balança e na consciência. Treze nunca puderam provar seu potencial. Vinte e quatro dão ré? 365 de um dia pro outro vira um. Quem diz que é melhor um pássaro na mão do que dois voando nunca foi livre. Os últimos serão os primeiros na roda da vida. O primeiro pedaço é seu. O antepenúltimo recebe medalha de bronze. Só cabem três no podium. Oito será oitenta em dez décadas. A arte milenar é velha. Dinheiro tem se mostrado indivisível. Menos é mais. Dez é redondo. Zero a esquerda vale porque existe. 50 anos é ouro. Minutos não passam. Dias voam. Ninguém gosta de 3x4. 212 é ebulição. Júlio Novesfora. 1/4 faz falta. Uma dose. Quem não tem par, é ímpar. Centopeia. Sete é primo. Curiosidade ao cubo. Aumenta o salário mínimo. Pi entra no lugar do palavrão. 'A paixão é o mundo a dividir por zero'. Cem paciência, quem dera.
Beijos mil,
Chibo