Muita Cláudia pra pouca cadeira

Quem não se sobressair vai ficar sem lugar para sentar e, por isso, ofereço um pequeno manual das poltronas confortáveis, baseado apenas em observação empírica dos acontecimentos.

Você vai lá nas primeiras entrevistas de emprego e recorre aos outros para saber o que querem que você seja daquilo que você tem que ser que se aproxime do que você é. Assim, logo ganha a lista:

- três qualidades ------» Ah, só conto história e vantagem. A terceira te mando por e-mail.

- três defeitos: -------» Sou linda e perfeccionista. Que horas são?

- como você se vê daqui a 5 anos -------» Não cabendo na calça DINS.

- alguma situação em que você se sobressaiu -------» ToUrO MeCâNiCo.

- por que escolheu esta profissão --------» Porque tem todo um glamour.

UM SONHO: fazer isso um dia.

A profissional e você estudaram 4 anos para sua vaga de emprego valer uma gincana de rapidinha com a Xuxa.

Porque queridos, com essas perguntinhas e meu currículo, elas nem sonham que eu quebro todos os objetos da mesa no trabalho quando alguém faz alguma coisa errada. Com direito a pratos voadores na parede e também portarretratos (ficou assim com o novo acordo ortográfico, não posso fazer nada).

E nem entraremos na questão das dinâmicas de grupo porque também não podemos fazer nada se quem prepara as atividades sofreu bullying na escola.

Entre questionamento interno sobre o que será que esperam que eu fale ou como o que eu vou falar indica que tenho o perfil para a vaga, foram necessários alguns anos de observação para perceber que o que você realmente precisa é ter jogo de cintura. Eu simplesmente amo quem tem - de sequestradores a executivos.

Acho que deveriam ensinar, obrigatoriamente, como disciplina na escola a ter jogo de cintura e também a entender ironias e a interpretar textos - importante.

E eu não usei o exemplo de sequestradores em vão, uma vez que eu tenho um quase-sequestrador preferido. Naquela onda de falsos sequestros em que ligavam para as casas para pedir resgate do filho, eis que alguém se sobressai.

- Alô? A gente tá com a sua filha e se você....

- Minha Filha? Aé? Então qual é o nome dela?

- O NOME DELA????? O NOME DELA É...PRESUUNTO!


Contratado.





ps.1: quem só conta história e vantagem ~~~ @caroladdario

ps.2: sequestrador que amamos fingiu sequestrar ~~~ @camilaguidelli




Consequências do isolamento de soldado

Voilà! É essa a expressão para quando se tem a ideia brilhante de fazer isolamento de soldado. Sim, vejam só. A vida está monótona, então o que vamos fazer? Tomar um banho frio, encontrar os amigos e sugerir um karaokê?

Não. Vamos mudar de país.

Pausa dramaticamente exaltada. Gente, isso adianta. Eu lá nos meus 16 anos resolvi morar nos Estados Unidos alone by myself na esperança de encontrar um lar para chamar de meu, mesmo que temporariamente. Eu queria ver de perto que teria para sempre refil de refrigerante mesmo se virasse um baiacu em pleno restaurante. Iriam ser meses desafiando a mim mesma que estaria segura da terceira guerra mundial, se passasse ilesa pelos corredores da High School.

É uma estranha sensação de não saber o que fazer consigo mesma e de ter que se encontrar com horário marcado. E você se encontra. E volta e vê que o Brasil continua intacto mesmo que jurem que um dia fomos grudados à África. Os anos passam e aquela experiência rende boas histórias e te dão forma, mesmo que a raça humana só se importe que você aprendeu inglês.

A vida fica novamente monótona, então o que vamos fazer? Tomar um banho frio, encontrar os amigos e sugerir um karaokê?

Não. Vamos mudar de país.

Quero ver quem vai me dizer que sou dramática. Mas agora era hora de explorar o velho continente. E você vai lá, firme e forte nesse encontro marcado com sua própria face.

Mas pessoal, pensem bem, eu já me recebi em visita por seis meses duas vezes. E vocês não podem calcular o que isso faz com uma pessoa. Isso porque nessa segunda vez, eu já nem queria saber de mim mesma. Eu me recebi me deixando para trás. Eu queria era receber a visita de outra pessoa para poder mostrar que eu tinha visto as flores atrás da faca em Guernica.

De que adiantaria mostrar para mim mesma? Eu vendo aquelas coisas todas e tirando foto com medo de que minha memória não desse conta e ao mesmo tempo p da vida com essa companhia de migo mesma, que andava com uma cara sonsa atrás de mim.

Porque quem já dividiu alguma coisa na vida só vai querer saber do que chamam de necessária solidão naqueles minutos em que se arruma para mais tarde dividir.
São coisas do isolamento de soldado em que você precisa estar, assim, sozinha no cinema assistindo “Entrando numa fria maior ainda” para aproveitar o único diálogo profundo do filme, em que um dos personagens fala que viajou tanto e que não sabe onde é seu lar – para obter a resposta a si mesma – seu lar está dentro de você.

E você até entende e aceita. Mas sabe que nem uma mulher tomando forma de tatu bola no cirque du soleil seria tão surpreendentemente surpreendente se você não tiver com quem contar o trocadilho tão elaborado que bolou em segundos e esperar a gargalhada alheia. E que essa pessoa não pode ter só a forma de gente; ela precisa ser para você alguém.

Em uma viagem sozinha eu vi a placa “Follow your nose you’re very close” indicar a flecha para uma ruazinha estreita e não fui. Talvez porque estivesse realmente escuro para se atrever a andar pela ruazinha. Talvez porque eu já quisesse me despistar.