Minha estranha relação

Daí a gente vai lá e inventa umas coisas.

Comprei o último livro do Saramago, "A viagem do elefante", antes de fazer minha viagem para Portugal. Achei que era simbólico escolher o autor português que tanto gosto, o tema principal ser uma viagem e deve ter passado pela minha cabeça que eu seria o elefante.

Conexão mais básica aprendida na escola em ligar um lado de coisas ao outro.

Abri o livro antes de viajar e tinha uma epígrafe (frase do começo de emocionar até brucutu) "Sempre chegamos ao sítio onde nos esperam, Livro dos itinerários". Pronto.

"Que lindo" "Esse sítio me espera". Mas assim, a ligação foi tanta que eu tinha certeza que o elefante Salomão chegaria no seu destino, quer dizer, que eu leria essa parte quando tivesse chegando no meu.

Pensamento de quem assistiu Jumanji na infância. Lucas Silva e Silva também.

Acontece que as coisas foram piores do que o previsto. Além de alimentar tal sinergia com o Salomão elefante durante seis meses, a viagem acabou e eu nunca conseguia acabar de ler.

Já voltei, já dava até para ter ido de novo; vejam o tamanho proporcional do aumento da nossa relação.

Eis que alimentando, qualquer coisa cresce. E passado um ano que cheguei, tenho medo de saber onde Salomão vai chegar. Porque o sítio aonde me esperam não é mais aquele que eu esperava, entende?

Bom, Saramago morreu, Salomão a essa altura do livro já mudou de nome para Solimão, já andou um bocado, já morou em Portugal, mas agora caminha ao seu destino final.

O problema é que após ter dado um gás na leitura das páginas eu travei de novo. Seja lá qual for o fim de sua jornada Solimão, que fique bem claro que eu posso rir e dizer:

Essa não deu, mande outro sinal. E aí tudo que li não vai valer de nada, porque APERTEI ESPAÇO E O POST SUMIU BEM NESSE PONTO, COM ALGUMAS PALAVRINHAS A MAIS QUE NÃO DEVE TER DADO TEMPO DE SALVAR AUTOMATICAMENTE.

EU JURO POR TUDO QUE É MAIS SAGRADO. MUDEI DE IDEIA. ESSE SINAL VALEU, SIM.

BEIJOS
Toda vez que deito na cama acordada me pergunto se você também está deitado na cama acordado e pensando naquelas dores nas costas que um dia você me contou e logo mudou de assunto.

Eu quis te dizer que eu também tinha algumas dores, mas logo falávamos de outra coisa. Como agora que te escrevo para te dizer que você está em várias coisas do meu dia e que muitos dos meus trabalhos acontecem devido ao seu conhecimento. Porque eu sempre admirei o modo como você, quase quieto, falava sobre uns devaneios.

Uma coisa assim com medo do que pudesse suceder e de como você estaria por aí, tão vulnerável à boca dos outros.

E aí lembrei que nunca tive a oportunidade de te dizer que eu amo como não tenho que te dizer nada, porque você não acha nada sobre mim, só porque eu fui.

Comemos pêssego um dia juntos e eu vim te dizer que ontem, ontem mesmo, pensei que seus trabalhos artísticos foram os mais lindos que já vi. E que se dane o que você já fez.

Se voltar, eu entenderei seus devaneios. Esse mundo de hoje manda uns sinais esquisitos e toda a gente acha normal ficar normal e usar estes meios de propagação rápida para liquidar a sanidade alheia de vez.

Se você quiser um dia sentar no parque, e a gente fingir que só quer ver os cachorros passar e depois arremessar a bola na cesta de basquete, eu quero ir.

Com amor,


Let it snow.