Consequências do isolamento de soldado

Voilà! É essa a expressão para quando se tem a ideia brilhante de fazer isolamento de soldado. Sim, vejam só. A vida está monótona, então o que vamos fazer? Tomar um banho frio, encontrar os amigos e sugerir um karaokê?

Não. Vamos mudar de país.

Pausa dramaticamente exaltada. Gente, isso adianta. Eu lá nos meus 16 anos resolvi morar nos Estados Unidos alone by myself na esperança de encontrar um lar para chamar de meu, mesmo que temporariamente. Eu queria ver de perto que teria para sempre refil de refrigerante mesmo se virasse um baiacu em pleno restaurante. Iriam ser meses desafiando a mim mesma que estaria segura da terceira guerra mundial, se passasse ilesa pelos corredores da High School.

É uma estranha sensação de não saber o que fazer consigo mesma e de ter que se encontrar com horário marcado. E você se encontra. E volta e vê que o Brasil continua intacto mesmo que jurem que um dia fomos grudados à África. Os anos passam e aquela experiência rende boas histórias e te dão forma, mesmo que a raça humana só se importe que você aprendeu inglês.

A vida fica novamente monótona, então o que vamos fazer? Tomar um banho frio, encontrar os amigos e sugerir um karaokê?

Não. Vamos mudar de país.

Quero ver quem vai me dizer que sou dramática. Mas agora era hora de explorar o velho continente. E você vai lá, firme e forte nesse encontro marcado com sua própria face.

Mas pessoal, pensem bem, eu já me recebi em visita por seis meses duas vezes. E vocês não podem calcular o que isso faz com uma pessoa. Isso porque nessa segunda vez, eu já nem queria saber de mim mesma. Eu me recebi me deixando para trás. Eu queria era receber a visita de outra pessoa para poder mostrar que eu tinha visto as flores atrás da faca em Guernica.

De que adiantaria mostrar para mim mesma? Eu vendo aquelas coisas todas e tirando foto com medo de que minha memória não desse conta e ao mesmo tempo p da vida com essa companhia de migo mesma, que andava com uma cara sonsa atrás de mim.

Porque quem já dividiu alguma coisa na vida só vai querer saber do que chamam de necessária solidão naqueles minutos em que se arruma para mais tarde dividir.
São coisas do isolamento de soldado em que você precisa estar, assim, sozinha no cinema assistindo “Entrando numa fria maior ainda” para aproveitar o único diálogo profundo do filme, em que um dos personagens fala que viajou tanto e que não sabe onde é seu lar – para obter a resposta a si mesma – seu lar está dentro de você.

E você até entende e aceita. Mas sabe que nem uma mulher tomando forma de tatu bola no cirque du soleil seria tão surpreendentemente surpreendente se você não tiver com quem contar o trocadilho tão elaborado que bolou em segundos e esperar a gargalhada alheia. E que essa pessoa não pode ter só a forma de gente; ela precisa ser para você alguém.

Em uma viagem sozinha eu vi a placa “Follow your nose you’re very close” indicar a flecha para uma ruazinha estreita e não fui. Talvez porque estivesse realmente escuro para se atrever a andar pela ruazinha. Talvez porque eu já quisesse me despistar.

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