Entre fotografias e marisco

Já era tempo que as terras de outro continente não lhe pertenciam mais. Assim como esqueceu-se de fincar a bandeira quando alcançou o topo (não sabia se o esquecimento era proposital ou não), limitou-se a ver as fronteiras ainda que as linhas imaginárias atingissem sua mente mas não o coração.

E nessas de se perder tão encontrada depois do oceano, deixou-se levar pela engrenagem evidente falha mas contínua, onde quando poeira desacelera, uma boa noite de sono trata de repor e de encontrar energias e de tirar a ferrugem e de esconder o tétano.

É porque tratou de ver aquele filme cena por cena para ter certeza que no geral, os detalhes não deixavam-lhe mentir – era mesmo especial. Esqueceu-se de tanta coisa, que não foi capaz de lembrar que aquilo poderia não dar certo – brincava com metades, como sim e não. Mas sequer imaginava.

Quando lhe ocorria, procurava alguma rápida distração de ater-se, disfarçando, ainda que de si mesma, em um gostoso embalo que lhe trazia criatividade e lhe garantia boas noites dançantes – a dormir com os pés doendo em uma liberdade de escolha interessante: pela primeira vez na vida, tudo que fazia atingia, acredite, apenas a si mesma.

E foi também por essa razão que lutou tão fielmente ao seu objetivo; cruzou o mapa mundi com um x vermelho, porque a volta, sabia de cor.

Assim pensava, assim mentia. Trouxe na mala histórias, fotografias e mariscos. Todos mortos, vistos por quem não se preocupa em saber onde ele começa, onde ele termina, onde, naquele negócio estranho, bate um coração.

Engolem-nos de uma vez só. Às vezes dois, três. E ela fazia isso com as histórias que lhe incomodavam – as engolia de uma vez só. Sem se preocupar em saber onde começam, onde terminam. Já não se importava mais.

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